#ProjetoDickens – As aventuras do Sr. Pickwick

Post do arquivo do Café com Blá Blá Blá*

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Em 2018 nós perdemos todos os posts antigos e, aos poucos, estamos subindo o conteúdo antigo para que todos tenham acesso.

 

Há alguns anos, quando iniciei o #ProjetoDickens, minha ideia era ler toda a obra do autor seguindo a ordem cronológica de sua publicação.

Iniciei o meu desafio por Retratos londrinos, seu primeiro livro publicado, que possui uma coletânea de crônicas sobre o dia a dia e os costumes de Londres.

Depois disso, iniciei a leitura de As Aventuras do Sr. Pickwick, primeiro romance do Dickens, publicado inicialmente em fascículos no jornal e, posteriormente, reunido em forma de livro em 1836. E isso já faz dois anos. Desde então acabei lendo outras histórias do autor, mas sem concluir esta.

Deixe-me explicar: comecei a leitura de Pickwick em pleno feriado de Carnaval, com um monte de tempo de sobra para me acomodar com comodidade no sofá e ler por horas a fio. Logo de cara, me deparei com um livro divertido, irônico, que me despertava sorrisos sem conta. Porém, o feriado terminou e, com ele, a viabilidade de ficar em casa com o livro.

Ora, agora você se pergunta: “E o que é que tem? Por que não levar o livro com você para cima e para baixo?”. Porque ele é muito pesado. E pior, ao contrário de outros tijolões como A Guerra dos Tronos, que apesar de grandes têm mais flexibilidade, a minha edição tem a costura bem firme e exige um certo “esforço” para ser mantida aberta. Por isso, acabei deixando o livro de lado por um tempo, lendo apenas uma página aqui e outra lá… Mas a história já havia me fisgado e eu queria muito chegar ao seu final. Assim sendo, resolvi radicalizar: comprei a versão em e-book e finalmente consegui dar um gás na leitura! #Yes

Confesso que iniciei a leitura de Pickwick um tanto no escuro, sem saber muito o que esperar daquele “tijolão”. A única referência que tinha era a de um vídeo da Gláucia, do canal Estante Indiscreta, que recomendava bastante as aventuras de um certo senhor inglês, recheada de bom-humor. E que delícia de livro!

O enredo se inicia com uma proposta elaborada pelos membros do Clube Pickwick – fundado e liderado pelo senhor de mesmo nome –, de fazerem uma viagem pela Inglaterra com o intuito de observarem os hábitos e costumes das pessoas. A ideia é aceita com louvor e rapidamente posta em prática pelos senhores Pickwick, Tupman, Winkle e Snodgrass… e o resultado disso é uma série de situações cômicas e de anedotas hilárias.

Sei que estou insistindo muito no viés engraçado que o livro tem, mas ele é tão evidente que os próprios títulos (incríveis) dos capítulos já passam uma ideia das atrapalhadas que estes contêm, como por exemplo: Capítulo curto em que se mostra, entre outras coisas, como o Sr. Pickwick se meteu a guiar, e o Sr. Winkle a montar: e como se saíram ambos da empreitada ou então De como o Sr. Winkle, em vez de atirar ao pombo e acertar na gralha, atirou à gralha e acertou no pompo; de como o Clube de “Cricket” de Dingley Dell jogou contra o de Muggleton, e de como o de Muggleton jantou à custa do de Dingley Dell; com outros assuntos interessantes e instrutivos.

Por ser publicado primeiramente em fascículos no jornal, creio que estes títulos serviam diretamente como chamariz para os leitores (como manchetes semanais), mas não posso deixar de apontar sua genialidade.

Ao longo destes capítulos, acompanhamos as aventuras dos quatro senhores e suas viagens por estalagens e pela apresentação do grupo a novos amigos e a personagens um tanto estranhos e excêntricos que contribuem ainda mais para a riqueza do texto com suas anedotas e lendas urbanas.

Em uma destas situações, o Sr. Pickwick sinaliza a necessidade de um criado para acompanhá-lo e ajudá-lo a suprir suas necessidades da viagem. É assim que é apresentado a Samuel Weller, rapaz que se torna o seu mais fiel escudeiro e amigo. A relação de Sam com Pickwick é realmente tocante. O rapaz logo se mostra ser de uma fidelidade inabalável para o seu amo, a ponto de abrir mão até mesmo de sua liberdade e felicidade por ele (sem que este peça por isso. Sam o faz de bom coração e por não querer deixar seu mestre em apuros).

Outra característica muito marcante também é o coração enorme de Pickwick. Ele é capaz de fazer qualquer coisa para fazer valer os seus princípios e para ajudar a quem quer que seja que precise de ajuda: de amigos a trambiqueiros, entes próximos ou desconhecidos. Em um certo momento, Sam chega a descrevê-lo como:

“Nem vi nos livros de história, nem vi em pintura, nenhum anjo de calça e polainas; nem mesmo no teatro, que me lembre, apesar de ser muito possível que lá aparecesse. Mas note bem o que lhe digo, Job Trotter, aquele homem é um anjo inteirinho e verdadeiro, e apareça alguém que ouse afirmar que conhece outro melhor!”

Em meio a tudo isso, acompanhamos também o crescimento dos personagens: suas aflições, arrependimentos e amores. No fim, Pickwick se mostra como um menino no corpo de um idoso, com a pureza de olhar e de coração de uma criança. Ele parece o avô que qualquer pessoa gostaria de ter!

Só posso encerrar esse texto com essa indicação de um clássico pouco conhecido, mas que realmente vale a pena ser admirado por todos. Recomendo demais a leitura!

 

Ficha Técnica:

Título: As aventuras do Sr. Pickwick

Autor: Charles Dickens

Editora: Globo

Páginas: 838

País: Inglaterra

Avaliação: 5/5 estrelas

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