“A gente se acostuma com as coisas extraordinárias. Aceita como normais. Podemos até tentar não nos acostumar, mas é o que acontece. Tem coisa extraordinária demais no mundo, só isso. Em toda parte.”
Apesar de estar tentando focar as minhas leituras da obra de Stephen King de forma a concluir a série A Torre Negra (porque é claro que ao invés de “apenas” ler a série eu optei por ler também outros títulos que se relacionam com a história épica de Roland Deschain), resolvi fazer uma pequena detour com um dos lançamentos mais recentes do autor: Depois.
E já antecipo que tenho sentimentos bastante controversos sobre esse livro, que vão na contramão da opinião geral, que é toda elogiosa ao livro.
“Sempre tem um depois. Agora sei disso. Pelo menos até morrermos. Aí, acho que tudo passa a ser antes disso.”
Com uma narrativa afiada e divertida (sério, eu amei muito a forma como a obra é narrada), o livro nos conta a história de Jamie, um garoto que “vê gente morta” (qualquer semelhança com O sexto sentido não é mera coincidência).
“Pois é. Eu vejo gente morta. Pelo que lembro, sempre vi. Mas não é como naquele filme com o Bruce Willis. Pode ser interessante, pode ser assustador às vezes (…), pode ser um saco, mas em geral só é.”
De acordo com Jamie, essa sempre foi sua realidade, desde que era muito pequeno. Ele consegue ver – e até mesmo conversar – com as pessoas que acabaram de morrer. Mas, o mais assustador, é que ele as vê exatamente como morreram, ou seja, se aquela pessoa teve uma morte violenta ou teve sua aparência muito modificada, ele a verá desta forma.
Sua mãe, uma agente literária, sempre pediu que ele mantivesse sua “habilidade” em segredo… Até que ela precisa que ele utilize o seu dom para recuperar a história do último volume de uma série de sucesso cujo autor faleceu antes de terminá-la. Porém, esse episódio aparentemente inofensivo vai abrir uma brecha para que outras situações ainda mais inusitadas ocorram – e que podem colocar a própria vida (ou sanidade) de Jamie em jogo.
Depois nos apresenta uma narrativa bastante divertida e envolvente, que em alguns momentos me lembrou bastante a dinâmica de It – A coisa (livro que, aliás, tem conexões ainda maiores com esta obra). A escrita de King aqui é ágil e bastante concisa (algo difícil na bibliografia do autor) e traz uma boa dose de suspense e horror, mas sem pesar demais a mão no grotesco.
A forma com a qual o autor desenvolve a habilidade de Jamie também é muito interessante e une alguns elementos já presentes em seu universo, como antigos rituais e mitologias com as quais o leitor assíduo de King já está mais do que familiarizado. A sensação que tive durante a leitura foi a de estar assistindo a um bom filme da Sessão da tarde, repleto de ação e aventura…
Até chegar no final e tomar um banho de água fria. Pois é.
Até 80% do livro eu estava adorando a leitura e achando a experiência tudo aquilo que ela prometia. Contudo, assim como também aconteceu com It, King encontrou uma solução (?) para a existência do dom de Jamie que eu achei extremamente aleatória e mal desenvolvida. Todo o plot final não fez sentido algum, além de pender para um lado totalmente problemático (e que foi apresentado de forma superficial e sem nexo). Isso fez com que a obra perdesse todo o seu brilho comigo e que eu terminasse a leitura com um sabor amargo na boca – e, francamente, bastante decepcionada.
Não deixarei de seguir na minha leitura da obra completa do autor – até porque ele tem sim muitos livros excelentes –, mas para mim Depois não funcionou.
Ficha Técnica:
Título: Depois
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Páginas: 192
Avaliação: 3/5 estrelas