Post do arquivo do Café com Blá Blá Blá*
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Em 2018 nós perdemos todos os posts antigos e, aos poucos, estamos subindo o conteúdo antigo para que todos tenham acesso.
Há tempos eu estava ansiando por ler alguma obra de Mário Vargas Llosa… Sempre “esbarrei” em um livro ou outro do autor peruano pelos corredores da livraria, mas acabava mudando de ideia. Porém, minha história com Travessuras da menina má é um tanto quanto… conturbada. Foi preciso pegá-lo emprestado duas vezes para eu finalmente dar uma chance a ele – não me perguntem! Nem eu mesma entendo o porquê!
Ricardo é um romântico incorrigível. Ainda na sua juventude, passada aos trancos e barrancos pelas ruas de Miraflores – um bairro de classe média de Lima, no Peru –, o garoto conhece uma “chilenita” por quem se apaixona perdidamente. Porém, depois do que pode ser definido apenas como um flerte, ela some no mundo sem deixar pistas.
Anos depois, já com essa paixão platônica “superada” (pero no mucho), o rapaz se encanta com uma rebelde comunista, que está a caminho da Revolução Cubana. Mas… O que será que aquela jovem tem, que desperta alguns sentimentos há muito adormecidos? Esse é apenas o começo de um relacionamento mais do que conturbado entre Ricardo e a sua “menina má”, que acaba se estendendo por diversas décadas – e por diversos países.
Ah, os autores latinos! Passei tanto tempo imersa nos livros de língua inglesa (seja traduzidos ou não) que quase me esqueci de como gosto dos textos trabalhados, das palavras selecionadas minuciosamente e das ricas figuras de linguagem das línguas latinas! Não me entendam mal…! É claro que também encontramos textos lindíssimos de autores americanos e ingleses (e canadenses e australianos…), mas tenho uma “queda” mais do que acentuada pela escrita original em espanhol (neste caso traduzida, tá?) e em português.
A narrativa de Llosa é tão cheia de detalhes, que nos sentimos verdadeiramente como parte integrante da sua obra – e nunca de um jeito cansativo ou enfadonho! Sabe aqueles dias em que você torce por um pouco mais de transito no trajeto de volta para casa para poder ler mais algumas páginas? É exatamente este o caso!
O fato de o autor ter morado e/ou visitado muitas vezes os países-cenário do livro (principalmente Lima, Paris e Londres) torna a narrativa ainda mais rica, uma vez que ele descreve estas localidades com “conhecimento de causa”. (Se Meia-noite em Paris não te deixou morrendo de vontade de visitar a França, tenho certeza de que Travessuras da Menina Má o fará!!).
Mas não é só a ambientação que encanta não! Os personagens também são cativantes! Ricardo e a menina má (ela muda tantas vezes de nome ao longo da trama que fica difícil escolher apenas um para se referir a ela, então farei como o autor e a citarei apenas como “menina má”) possuem personalidades completamente opostas: ele, passional de uma forma que beira o exagero e ela, fria e distante. A devoção cega dele a ela chega até a irritar às vezes – dá vontade de dar um “chacoalhão” no rapaz e dizer “larga dela, homem!”. Porém, assim como em toda boa história narrada em primeira pessoa, nós também sentimos a mesma ambiguidade de sentimentos do protagonista em relação ao seu objeto de desejo. Ela fascina, intriga, dá pena, dá raiva…!
Além disso, a menina má é uma personagem tão complexa que é impossível não se compadecer pelo menos um pouco da sua situação. É quase como se todas as suas “travessuras” levassem consigo um pedaço dela. As suas relações com os outros personagens (e com a sua ambição) são praticamente doentias e dependentes, de uma forma que chega a ser perturbadora.
E, como se tudo isso não fosse o suficiente, Llosa nos brinda com personagens secundários impressionantes, que nos conquistam logo de cara! É interessante como o autor se utiliza destas “participações especiais” para nos inserir no contexto político da época e ultrapassar o conceito de uma simples história de (des)amor – reflexo da forte participação política do próprio escritor.
Com tantas dicotomias, encontros e desencontros, acaba se tornando uma missão quase impossível não gostar deste livro! Me pergunto por que demorei tanto para lê-lo! (Não preciso nem dizer que já fui correndo buscar novos títulos deste autor, não é mesmo??).
Uma leitura mais do que recomendada!!
Ficha Técnica:
Título: Travessuras da Menina Má
Autor: Mario Vargas Llosa
Editora: Alfaguara
Páginas: 302
País: Peru
Avaliação: 5/5 estrelas