“Aos raros sobreviventes que carregam a dor de sobreviver.”
A primeira vez que soube do genocídio ocorrido em Ruanda, quando a parcela de população da etnia hutu matou quase 70% da população tutsi, em 1994, foi por meio do filme Hotel Ruanda, que assisti para um trabalho da escola.
Lembro de ter ficado muito impressionada com aquelas imagens – tristes, devastadoras, dolorosas – e querer saber mais sobre o evento e sobre como algo tão terrível podia ter acontecido sem que ninguém fizesse nada para evitá-lo.
Em 2017, muitos anos depois, a autora de origem ruandesa Scholastique Mukasonga veio participar da FLIP e foi quando ouvi falar pela primeira vez em seus livros, que giram em torno dos trágicos acontecimentos que devastaram o seu país – e a sua família.
“É como se não tivéssemos existido jamais (…). E sou a única a possuir essa lembrança. É por isso que escrevo estas linhas.”
Baratas, o primeiro livro de uma trilogia dedicada ao tema, é uma espécie de livro de memórias onde Scholastique relembra sua infância humilde em Ruanda. Já naquela época, entre 1950 e 1960, os tutsis eram humilhados e ameaçados pelos hutus, obrigados a deixarem suas casas para viver em comunidades improvisadas.
A menina, sempre muito esperta e sagaz, observava o clima de insegurança e instabilidade em sua aldeia e descreve as sensações de ataques iminentes que às vezes ocorriam por ali, deixando um rastro de dezenas de mortos.
Tendo conseguido uma bolsa para estudar fora do país e, depois, morando na França com o marido e filhos, ela foi uma das poucas tutsis sobreviventes ao genocídio, que destruiu centenas de famílias.
“Ruanda já não era nada mais do que uma ferida incurável.”
Em Baratas, mais do que narrar a sua história, a autora faz uma homenagem comovente aos que se foram.
Um livro emocionante, poético, inesquecível.
Ficha Técnica:
Título: Baratas
Autor: Scholastique Mukasonga
Editora: Nós
Páginas: 192
País: França
Avaliação: 5/5 estrelas