“Caso tenha esquecido, egrégio senhor, permita-me recordar: sou a sua mulher.”
É com essa frase impactante que se inicia Laços, um dos livros mais famosos do autor italiano Domenico Starnone, conhecido por sua narrativa marcante e pela forma com que desnuda os relacionamentos e os sentimentos humanos em suas obras.
E esse seu estilo narrativo despertou – e continua despertando – a curiosidade do público por lembrar bastante o de outra autora, conterrânea sua: Elena Ferrante. Inclusive, toda vez que a polêmica em torno da identidade de Ferrante vem à tona, o nome de Starnone está sempre presente – seja como provável marido da autora ou, até mesmo, como possível identidade do pseudônimo mais famoso da atualidade.
Mas intrigas e suposições à parte, uma coisa é inegável: Starnone, assim como Ferrante, é capaz de construir um romance poderoso, que fisga o leitor desde a primeira página e o suga para um vórtice de sentimentos e acontecimentos que nos deixam com um peso no estômago.
Publicado em 2014 na Itália, Laços foi apontado como um tipo de “resposta” a Dias de abandono – se no livro de Ferrante acompanhamos a narrativa pelo ponto de vista de uma mulher que chegou ao fundo do poço após ter sido abandonada pelo marido, aqui temos o ponto de vista de um narrador que, depois de anos de casado, decide largar a mulher e seus dois filhos para viver um novo romance.
“Acho que você ainda não se deu conta do que me fez. Entende que é como se tivesse enfiado uma mão na minha garganta e puxado, puxado, puxado até arrancar o que eu tenho no peito?”
Contudo, um dos aspectos que mais me chamou a atenção no livro foi sua estrutura narrativa: acompanhamos os desdobramentos dessa decisão sob três pontos de vista: o primeiro, narrado por meio de cartas de Vanda para Aldo, é forte, doloroso e até mesmo um pouco dramático. O segundo é o do próprio Aldo, muitos anos depois, que em meio a um conflito no presente, relembra sua vida desde o incidente até aquele momento. Já o terceiro traz a visão dos filhos do casal e nos revela os efeitos que as atitudes de seus pais tiveram em sua formação como pessoas.
“Há uma distância que conta mais do que os quilômetros e talvez mais até do que os anos-luz: a distância das mudanças.”
Esse foi o meu primeiro contato com a narrativa do autor, e não podia ter sido melhor! Apesar de ser fisicamente enxuto, a obra entrega tudo na medida certa – seja no aprofundamento dos personagens, com suas relações, frustrações e sentimentos, seja ainda com um certo mistério que traz um desfecho surpreendente.
“Em toda casa há uma ordem aparente e uma desordem real.”
Starnone com certeza já entrou no meu radar de autores que quero acompanhar!
Ficha Técnica:
Título: Laços
Autor: Domenico Starnone
Editora: Todavia
Páginas: 144
País: Itália
Avaliação: 4/5 estrelas