“Pensei em como um ato obscuro gera outros, cada vez mais obscuros, então o problema é interromper a cadeia.”
Em meio ao meu amor repentino pela Itália e pela língua italiana, é claro que não tinha como deixar de fora a literatura! E a Elena Ferrante é uma das grandes responsáveis por me fazer querer mergulhar nos livros dos autores do país…
Eu ensaiei muito antes de finalmente pegar um de seus livros para ler. Após ouvir muita gente falar bem de suas narrativas, tinha aquele velho medo de ir com muita sede ao pote e acabar me arrependendo. Depois de muito enrolar, veio o empurrão necessário: Dias de abandono foi o escolhido para inaugurar o Clube de Leitura do Café, pois cumpria todos os requisitos necessários: nenhuma de nós o havia lido e o enredo prometia dar muito “pano pra manga”, quer dizer, para discussão.
Apesar de ser fluido e de possuir uma narrativa envolvente, Dias de abandono não foi uma leitura fácil – foi doída, visceral e arrasadora. Ou seja, eu adorei! A comichãozinha por ler mais alguma coisa da Ferrante continuou e eu acabei colocando seu último lançamento, A vida mentirosa dos adultos, no topo da lista: comprei na pré-venda (coisa que quase nunca faço) e iniciei a leitura assim que ele chegou. O resultado? Mais uma experiência muito recompensadora!
E então chegamos a 2021. Apesar de seguir me coçando para finalmente ler a Tetralogia Napolitana, resolvi dar sequência na minha leitura da obra da autora desbravando primeiro os seus livros “únicos” (até porque neste exato momento sigo em meio a uma outra grande série – O tempo e o vento – e não quis iniciar uma nova saga antes de terminar esta).
A “desculpa” perfeita para tirar A filha perdida da estante foi a matrícula no curso sobre Elena Ferrante ministrada pela psicanalista Tatianne Dantas, que começava em abril. Claro, não daria tempo de mergulhar na tetralogia até a primeira aula, mas queria ler pelo menos mais um livro da autora antes de as aulas começarem.
Tinha a impressão de que não curtiria tanto este volume – pode ter sido por puro “preconceito”, mas achava que esta seria uma leitura muito árida, sofrida, pesada. Ledo engano! Eu simplesmente a-do-rei esse romance – apesar de sim, ele tocar em alguns assuntos um tanto pesados e perturbadores. Mas a sensação que tive é a de que este livro era exatamente o tipo de leitura que eu queria fazer neste momento.
A obra narra a história de Leda, uma mulher de quarenta e oito anos, divorciada, cujas duas filhas se mudaram com o pai para o Canadá, enquanto ela permaneceu na Itália. Em umas férias de verão, a mulher decide alugar um apartamento na praia e aproveitar aqueles dias para relaxar e trabalhar em sua pesquisa. Porém, sua rotina é perturbada quando ela se vê hipnotizada por uma jovem mãe e sua filha – completas desconhecidas, as duas despertam um interesse obsessivo em Leda, que passa a observá-las quase que religiosamente.
“As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender.”
A partir daí, a história dessa obsessão vai se mesclando com flashbacks da vida da própria Leda – e, principalmente, de sua relação disfuncional com as próprias filhas e com o seu sentimento contraditório frente à maternidade.
Maternidade. Esse é um dos pontos centrais da história. Na obra, Ferrante explora suas diversas vertentes, muitas vezes assumida de forma quase automática, e lança uma luz nos cantos não tão bonitos e idealizados do papel de mãe. Tudo isso, mesclado em uma narrativa que possui um certo ar de suspense e que guarda algumas surpresas.
“Um filho é, de fato, um turbilhão de emoções.”
Depois dessa leitura, estou quase solicitando a minha carteirinha dos “dominados pela febre Ferrante”. Mal posso esperar para ler os outros livros da autora!
Ficha Técnica:
Título: A filha perdida
Autor: Elena Ferrante
Editora: Intrínseca
Páginas: 176
País: Itália
Avaliação: 5/5 estrelas