Post do arquivo do Café com Blá Blá Blá*
Este post faz parte do arquivo do blog.
Em 2018 nós perdemos todos os posts antigos e, aos poucos, estamos subindo o conteúdo antigo para que todos tenham acesso.
Longe de metas absurdas e listas intermináveis, a minha proposição para este ano no universo da leitura foi relativamente simples: desencalhar livros parados há muito tempo na estante e ler mais clássicos. Pensando nisso, resolvi começar o ano com o pé direito, unindo o “útil ao agradável”…
Já fazia um bom tempo que eu ouvia a Fanny e a Thais elogiarem a série North and South, produzida pela BBC – a ponto de as duas se virarem abruptamente no carro e questionarem (de forma bem enfática): “Como assim você ainda não assistiu???”.
Mas, como “boa leitora”, bati o pé e disse que só assistiria depois de ler a obra original, de Elizabeth Gaskell. Resolvi então abrir o meu “ano de leituras” com Norte e Sul e… Me apaixonei completamente.
Norte e Sul foi lançado pela primeira vez como um romance integral em 1855. Antes disso, o livro havia sido publicado em forma de folhetim na revista literária “Household Words”, editada por ninguém menos que Charles Dickens.
Por causa disso, a história original havia sofrido “cortes e adaptações”, a fim de se adequar ao formato da revista… Porém, essas mudanças foram restituídas pela autora quando a história foi publicada em um romance.
O livro traz o retrato da sociedade inglesa no começo do século XX – com ênfase na dicotomia entre o sul campestre (e mais conservador dos costumes da nobreza) e o norte industrializado, governado pelos comerciantes.
A primeira diferença que senti em relação aos outros romances do período com os quais tive contato (vulgo a obra de Jane Austen) é que em Norte e Sul Gaskell não poupa as discussões políticas e sociais – ela não se restringe apenas à interação de um grupo de personagens reunido em uma cidade interiorana e os desdobramentos românticos que essa convivência pode gerar. A autora vai mais “a fundo” e coloca o dedo em questões um tanto “polêmicas” para a época, como os dogmas da Igreja, a baixa qualidade de vida dos funcionários das fábricas, os jogos políticos dos comerciantes e até mesmo a degradação humana originada na miséria.
O fio condutor da narrativa é Margaret Hale, uma personagem feminina de personalidade forte e que transita por diversas realidades: o luxo da vida de seus tios em Londres, a pacificidade do campo, e o caos completo dos centros industriais (em ambos os lados: dos patrões e empregados). Através de seus olhos, podemos conferir em primeira mão esses contrastes – e, assim como ela, acabamos pré-julgando o certo e o errado… Mesmo que na realidade essa distinção não seja tão clara.
Na oposição, temos a figura imponente do Sr. Thorton, que reúne todo o “orgulho e preconceito” dos agentes da “prosperidade” – em alguns momentos ele pode ser visto até como um vilão, aquele que condena o proletário a uma vida de miséria. Porém, com o desenvolver da narrativa, vamos percebendo que não é bem assim que as coisas funcionam…
À primeira vista, a leitura pode não se dar de forma tão fluida e rápida – até mesmo pela linguagem da época e pela contextualização da obra. Porém, conforme a história avança, temos uma série de reviravoltas que acabam adicionando velocidade à narrativa. Não que esse passo mais “lento” do começo me “chateie” – pelo contrário. Gostei de mergulhar com Margaret nessa nova realidade e descobrir junto com ela cada viés deste lugar inesperado.
Confesso que, apesar da minha já alta expectativa em relação à obra (culpa das meninas!), acabei me surpreendendo e me apaixonando perdidamente pelo livro! Resultado: não aguentei esperar, emendei a leitura com a série e… Ah! Não poderia ter sido melhor. Mas isso já é assunto para um novo post.
Alguma dúvida de que esta é uma leitura mais do que recomendada?
Ficha Técnica:
Título: Norte e Sul (North and South)
Autor: Elizabeth Gaskell
Editora: Landmark (Penguin)
Páginas: 544
País: Inglaterra
Avaliação: 5/5 estrelas