“It is the loveliest old shop straight out of Dickens, you would go absolutely out of your mind over it.”
Já faz um certo tempo que ouvia falar de um pequeno e notável livro que pretendia ser uma espécie de bálsamo para os amantes de literatura. Contudo, a versão em português de 84, Charing Cross Road – batizada por aqui com o terrível e inapropriado nome de Nunca te vi, sempre te amei – está esgotada há bastante tempo e até o prezado momento não temos a previsão de uma nova edição.
Apaixonada por livros sobre livros, decidi aproveitar a boa e velha promoção de importados do Prime Day da Amazon (“compre 3, pague 2”) e adquiri o meu xodozinho exemplar em inglês mesmo. E a vontade de lê-lo era tanta que ele mal ficou na estante antes de me acompanhar em uma tarde gélida de inverno.
Helene Hanff é uma escritora americana que, lá pelos idos de 1949, em meio à busca por um livro para sua pesquisa, descobre uma pequena livraria de exemplares usados em Londres (na 84, Charing Cross Road). Separada do local por mais de 3 mil quilômetros, ela inicia uma troca de correspondências com o dono do lugar – correspondência essa que duraria por mais de 20 anos.
84, Charing Cross Road é uma compilação dessas cartas e é um livro que aquecerá até o mais frio dos corações – principalmente se você for um amante de livros!
Por meio de suas cartas, acompanhamos as vitórias e os reveses de Helene como escritora – suas aventuras como roteiristas de séries de TV e autora de livros infantis – e sua busca incessante por obras raras ou difíceis de encontrar (desde que sejam de não ficção, pois ela não consegue conceber como alguém se interessaria por “ler histórias de pessoas que não existiram e que não viveram de verdade aquilo que está sendo contado”). Relatos esses pontuados por uma boa dose de humor e tiradas afiadas.
Do outro lado do oceano, temos Frank, Cecily e os demais funcionários da livraria Marks & Co. que, além de se desdobrarem para encontrar os volumes encomendados por Helene (mesmo que leve anos!), desenvolvem com ela uma grande amizade – mesmo que eles nunca a tenham conhecido pessoalmente.
“Somebody borrowed mine and never gave it back. Why is that people who wouldn’t dream of stealing anything else think it’s perfectly all right to steal books?”
Além das diversas citações de livros, dos mais variados gostos (de Jane Austen e Laurence Sterne a Platão e John Doone), também podemos conferir o reflexo do pós-guerra na Inglaterra, onde as pessoas ainda devem lidar com o racionamento de alimentos. É incrível a habilidade de Hanff, por meio de cartas, trazer tridimensionalidade a essas pessoas, a ponto de fazer com que nos importemos de verdade com elas e desejemos saber o que passa em suas vidas.
Esse é um daqueles livros que nos abraçam por dentro e nos deixa com um sorriso no rosto. Saí da leitura completamente encantada, lamentando apenas não ter mais nenhuma de suas cartas para ler. Agora quero assistir à sua adaptação cinematográfica de 1987, que traz Anne Bancroft e Anthony Hopkins nos papéis principais, para poder viver um pouquinho mais nessa história.
Obs: Essa obra também me lembrou bastante de A sociedade literária e a torta de casca de batata (o filme, porque o livro ainda não li – SHAME!), pois ambos têm uma “vibe” um tanto parecida. Se você gostou daquele livro/filme, com certeza vai se apaixonar por este!
Ficha Técnica:
Título: 84, Charing Cross Road
Autora: Helene Hanff
Editora: Penguin
Páginas: 84
País: Estados Unidos
Avaliação: 5/5 estrelas
Sabrina, dando uma passeada pelo teu blog e me deparei com essa maravilha -simplesmente minha obra mais querida (livro e filme). Que delícia essa história, não é????
Já conseguiu ver o filme? Tão delicioso quanto!!!!
Parabéns pela resenha!!!