E então, depois de quatro anos de espera… veio aí (e veio MUITO) The Car, o sétimo álbum de estúdio dos Arctic Monkeys (a.k.a. minha tardia, mas não menos, banda favorita). E ele entregou TUDO! (Ao menos para esta que vos escreve e eu vou explicar o porquê).
O contexto, ou O elefante na sala
Quem estava esperando um novo disco na linha mais “rock and roll” do grupo, encabeçada por AM e por todos os outros CDs que vieram antes dele, pode ter se decepcionado um pouco com este último lançamento. Afinal, The Car é um sucessor natural de Tranquility Base Hotel & Casino, lançado em 2018, trabalho que, sem dúvida, marcou o início de uma fase completamente nova da banda de Sheffield e dividiu opiniões, causando uma verdadeira disputa entre os autodeclarados “fãs fervorosos” do grupo.
Tranquility Base ou TBHC para os “íntimos” saiu depois do maior hiato da banda até então – longos sete anos o separam de AM, o disco que marcou uma época e cujas músicas não saem até hoje das rádios e das trilhas sonoras de séries “bad ass” como Peaky Blinders. Mas não é apenas o tempo que afasta essas duas produções… Se a fase AM foi marcada por topetes, motos, jaquetas de couro e óculos escuros – conjunto bastante representativo de suas músicas marcadas por um baixo forte, uma guitarra afiada e um vocal sedutor “à lá bad boy” –, TBHC já trouxe os músicos mais maduros (não em um mau sentido, veja bem!), relaxados, com seus ternos, calças de alfaiataria, camisas sociais e cabelos longos e um som mais cadenciado, com um instrumental plural e riquíssimo e um conceito que lembra bastante um lounge em um hotel futurista na lua (cenário literalmente apresentado em suas letras).
Essa não foi a primeira vez que os Arctic Monkeys se reinventaram – aliás, a mudança sempre foi uma constante para eles de um CD para o outro –, mas talvez tenha sido o rompimento mais “brusco” com o que eles tinham feito até então e isso pegou muita gente de surpresa. E eu me incluo nesse grupo.
Em 2018, AM ainda não saía do repeat na minha playlist e, quando a banda anunciou um novo álbum, esperei ansiosamente que ele seguisse o estilo daquele CD que já era tão querido por mim… Logo, a experiência de ouvir TBHC pela primeira vez foi um verdadeiro banho de água fria. Me lembro de tê-lo ouvido uma vez de cabo a rabo e pensar: “Puxa, que pena”, e decidir não ouvi-lo novamente (pelo menos por um tempo). Mas, como dizia Joseph Climber (em um dos memes mais antigos da internet), “a vida é uma caixinha de surpresas” e lá fui eu voltar a ouvir aquele CD depois de adquirir um ingresso para o Lollapalooza de 2019, que traria os Arctic Monkeys como headliners.
E aí tudo começou a mudar… Ouvi uma vez e: “Ah, talvez essa música aqui não seja tão ruim assim”. Ouvi a segunda e: “Bom, acho que essa aqui, na verdade, é bem boa.”. Na terceira, eu já estava cantando a letra de metade das músicas e, após o show, TBHC já era meu segundo álbum favorito do grupo, logo atrás de AM. Pois é. O jogo vira.
E então chegamos à era The Car.
Depois de me afeiçoar verdadeiramente a TBHC, não estava mais nem um pouco receosa em relação às minhas expectativas para o novo CD. Afinal, quem tem acompanhado as entrevistas com a banda, que começaram a surgir no começo do ano (quando ainda não tínhamos nenhuma pista sobre um lançamento – os meninos realmente mantiveram o público no suspense por meses!), já tinha ouvido o baterista Matt Helders cantar a bola de que The Car seguiria os passos do seu antecessor e aconselhar os fãs a “não esperarem o retorno de músicas no estilo do AM”. Ele avisou, galera!
Sendo assim, acredito que, pela primeira vez, a minha expectativa estava 100% alinhada com a vibe revelada já no primeiro single de The Car, “There’d Better Be A Mirrorball” e foi amor ao primeiro play! Fui imediatamente conquistada pela melodia suave e melancólica de seus acordes e comecei a ficar bastante empolgada com o que viria a seguir. Veio então “Body Paint” que, na minha opinião, é uma das faixas mais contagiantes do CD e que, de quebra, veio acompanhada por um clipe retrô sensacional, que já merece um VMA sim.
E, na meia-noite de ontem para hoje, veio ele todinho: The Car!
Na minha opinião, este CD é um passo além do que o conjunto conquistou em TBHC: se no disco anterior as faixas já contavam com diversos instrumentos extras e melodias orquestradas, The Car incorpora a orquestração de forma harmônica e integrada – o conjunto se completa perfeitamente para criar uma verdadeira experiência sensorial para o ouvinte.
Contudo, desta vez deixamos o espaço sideral de lado para adentrar os bares escuros, os cassinos vazios e até mesmo um chalé silencioso ao lado da lareira, em um dia frio, e passamos a discutir memórias, relacionamentos e expectativas – tudo envolto por uma aura nostálgica e retrô, que nos transporta pelo espaço e pelo tempo. (E aqui vale um enaltecimento à qualidade indubitável da escrita de Alex Turner que, como um bom vinho, só melhora com o tempo!).
Pela minha percepção, nesta produção a banda também abraça de vez suas influências no rock clássico para criar composições que me remeteram demais aos The Beatles e até mesmo à nossa bossa nova (que se faz presente na deliciosa “Mr Schwartz”). Ao lado da excelente “Sculptures Of Anything Goes”, “Perfect Sense” e dos singles já citados “Body Paint” e “There’d Better Be A Mirrorball”, The Car me arrebatou instantaneamente e já conquistou um espaço no meu top 3 de CDs dos Arctic Monkeys – e demorará para sair do repeat por aqui!
Mal posso esperar para conferir essas faixas ao vivo daqui apenas 15 dias, quanto os reencontrarei no palco do Primavera Sound!