Post do arquivo do Café com Blá Blá Blá*
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Quando Sob a Redoma, do renomado autor Stephen King, chegou às prateleiras, confesso que fiquei um tanto ressabiada. Afinal, para encarar um livro de 960 páginas, só se a escrita for realmente muito boa e o enredo surpreendente… Porém, minha curiosidade acabou crescendo um pouquinho com a review das meninas do Psychobooks e atingiu níveis estratosféricos depois que a CBS divulgou o primeiro trailer da série televisiva. Resolvi dar uma chance e, quando vi, já estava fisgada pelo livro!
A premissa não é tão inusitada assim: uma pequena cidade presa sob uma redoma, isolada de tudo e de todos. Porém, antes que você comece a citar Simpsons – O Filme, ou a série Gone, do Michael Grant, vale lembrar que, apesar de ter sido lançado apenas em 2012, Sob a Redoma é o resultado de um projeto que Stephen King iniciou lá pelas bandas de 1978. Pois é. Foram necessários 34 anos para que o livro fosse concluído e, cá entre nós, valeu a espera!
É até um pouco vergonhoso admitir, mas este foi o meu primeiro contato com a obra do autor. É claro que já havia ouvido falar em suas histórias arrepiantes, como O Iluminado (que já está na estante!), À Espera de um Milagre e Carrie, a Estranha, mas, medrosa que só, acabei adiando a leitura. Porém, como já disse lá em cima, após assistir à prévia da série baseada no livro, que será lançada pela CBS em junho, fiquei me “coçando” para devorar o “catatauzão” de 960 páginas. E adorei cada uma delas!
A primeira coisa que chama a atenção na obra é a escrita deliciosa e sagaz do Sr. King. Afinal, só ele para narrar o acontecimento mais importante do livro pelo ponto de vista de uma – wait for it – marmota! É isso mesmo! E esse é apenas um dos olhares inusitados com o qual vamos nos deparar ao longo da narrativa…
Outro fator que se destaca através da pena do autor é que, em Sob a Redoma, tudo é muito gráfico. Ele não poupa detalhes na hora de descrever as cenas de ação e, principalmente, os momentos de violência – sério, gente! Este não é um livro para crianças! – Parece que estamos assistindo a um filme, daqueles bem instigantes, que nos prendem na cadeira até o final da sessão.
Ao longo da leitura, temos a sensação de estarmos “presos” junto com os moradores de Chester’s Mill sob essa misteriosa redoma. E a forma com a qual somos apresentados a eles também colabora para esse sentimento de familiaridade, como se fizéssemos parte daquela sociedade. Aliás, essa foi umas das principais diferenças que senti em relação a outro livro que se passa em uma cidade pequena do interior: Morte Súbita, da J. K. Rowling. Se por um lado Rowling nos apresenta a todos os personagens em uma só tacada – o que torna o texto um pouco enfadonho –, por outro King nos introduz aos cidadãos a conta-gotas, conforme eles se tornam relevantes para os acontecimentos.
Já as suas personalidades… São tão marcantes, que eles parecem saltar das páginas! Suas artimanhas, seus segredos mais sombrios… Está tudo ali, destrinchado. Perdi a conta de quantas vezes quis invadir as páginas e atacar o segundo vereador Jim Rennie, ou me unir a Julia em suas denúncias de abuso dos poderosos. Sem falar em Dale Barbara, o típico herói – e um dos únicos com alguma massa cinzenta na cabeça! (Quer dizer, não o único, mas deixa pra lá!)
Agora, o principal mérito do livro está na forma como o autor explorou as relações das pessoas com o poder. Ao ser isolada do resto do mundo, Chester’s Mill acaba se tornando uma “terra de ninguém”, onde as leis tidas como “universais”, passam a não valer mais nada. Podemos observar em primeira mão os perigos (e os estragos) que a presença de um líder carismático e perspicaz pode fazer em uma cidade cheia de “ovelhas”.
A forma com que Jim Rennie coloca as principais autoridades do vilarejo “no bolso” e consegue manipular todas as situações a seu favor são mais aterrorizantes do que qualquer filme de terror, pois sabemos que essas coisas de fato acontecem. (Qualquer semelhança com conflitos reais não é mera coincidência!)
“Porque um homem sem uma meta, mesmo que tenha uma conta bancaria recheada de dinheiro é sempre um homem pequeno”.
Ufa! Acho que deu para perceber como me envolvi com a história, não é mesmo? Mas, acho que a melhor coisa que posso dizer em relação ao livro é: leia! Não se assuste com a sua grossura… A narrativa é de fato deliciosa e merece ser conferida!
Ficha Técnica:
Título: Sob a Redoma
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Páginas: 960
Avaliação: 5/5 estrelas