“Alguns poucos instantes podem mudar nosso caráter para a vida toda, dando uma direção diferente a nossos objetivos e nossas energias.”
“Mary Barthon é uma tentativa de compreender a revolta dos pobres diante de sua miséria”. A definição que a tradutora Julia Romeu escreveu no prefácio da obra de Elizabeth Gaskell não poderia ser mais certeira.
Mary Barton é uma história de miséria, revolta, violência e, de certa forma, sobre o poder de redenção do amor.
Já faz muito tempo que vinha ensaiando a leitura desse livro (em uma daquelas ‘autossabotagens’ de leitor), mas com o advento da quarentena, que me deu mais tempo para espanar a poeira de alguns livros da estante, resolvi finalmente abrir o meu terceiro livro da Elizabeth Gaskell (que já está se firmando como uma das minhas autoras vitorianas favoritas!).
Assim como em Norte e Sul, neste livro a autora faz duras críticas à condição de vida dos trabalhadores das fábricas no período da Revolução Industrial, marcada por pobreza, doença e violência.
E é justamente nesse cenário que se insere a nossa protagonista, que dá nome ao livro. Apesar de ter passados por diversos revezes, que a levam a viver na extrema pobreza com seu pai, Mary é uma jovem esforçada e determinada, que busca mudar sua vida por meio da honestidade e do trabalho. Mas, apesar de seguir sua conduta de acordo com os valores elevados de sua família, a jovem não está imune às tentações do amor… O que poderá inseri-la no meio de uma grande tragédia.
Apesar de explicitar o contraste entre a realidade dos trabalhadores e a riqueza dos empresários e donos das fábricas, a autora também mostra a complexidade dessa cadeia – se não há demanda pelos produtos, ou se estes têm que ser vendidos a preços baixíssimos para não perder competitividade, não há capital para melhorar os salários. O resultado disso é uma equação bastante delicada que desperta ódio, inveja, preconceito e até mesmo atos desesperados e violentos.
“É uma profunda verdade que não é possível acabar com violência através da violência.”
Em meio a tudo isso, a nossa heroína, apesar de sofrer com as consequências dos atos daqueles que lhe são muito queridos, luta bravamente para defender aquilo que ama, a ponto de se envolver em verdadeiras aventuras, com direito a viagens tensas e até mesmo a um julgamento de vida e morte.
Devo ressaltar que a autora pesa sim a mão em alguns trechos com tom religioso, o que pode deixar a leitura um pouco arrastada, mas no fim surpreendi bastante com a narrativa e gostei muito de finalmente conhecer a história de Mary Barton. Fica a recomendação para quem gosta de um bom romance vitoriano!
Ficha Técnica:
Título: Mary Barton
Autor: Elizabeth Gaskell
Editora: Record
Páginas: 460
País: Inglaterra
Avaliação: 4/5 estrelas